Reforma Protestante: As 5 Solas
- famdqc
- 31 de out.
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Reforma Protestante: Sola Fide
A humanidade grita em silêncio diante da ausência de um Salvador. O pecado, enraizado na natureza adâmica, faz ecoar esse clamor. Não há nada que a criação possa fazer para redimir a si mesma. Carente, desolada e condenada, a humanidade, juntamente com toda a criação, geme em angústia, ansiando por um Justificador.
Diante dessa realidade, Jesus, o Cristo — santo e puro — substitui a humanidade com Seu sacrifício perfeito na cruz. Toma o lugar da condenação, apazígua a ira do Pai e cumpre plenamente a Lei. Faz-Se pecado por todos, é ferido pelas transgressões da humanidade e moído por nossas iniquidades. Morre, mas, ao terceiro dia, ressuscita. VIVO ESTÁ.
A morte foi vencida. O pecado, aniquilado. Já não há mais condenação para os que estão em Cristo.
E quanto à humanidade? Nada precisa ser feito — basta somente crer.
Esta é a verdade resgatada pela Reforma Protestante: Sola Fide.
“Porque pela graça vocês são salvos, mediante a fé; e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie.” Efésios 2:8-9
“É a justiça de Deus, mediante a fé em Jesus Cristo, para todos e sobre todos os que creem. Porque não há distinção, pois todos pecaram e carecem da glória de Deus, sendo justificados gratuitamente, por Sua graça, mediante a redenção que há em Cristo Jesus, a quem Deus apresentou como propiciação, no Seu sangue, mediante a fé.” Romanos 3:22-25a
Não há obra que o homem possa realizar para ser justificado, pois a justificação vem somente pela fé em Cristo. Nenhuma ação humana é capaz de nos salvar.
Todavia, a fé na obra salvadora de Cristo deve nos conduzir a perseguir o Evangelho genuíno, a ter a vida centrada naquele que nos salvou e a obedecer à Sua Palavra. Não há outro caminho para quem foi agraciado pelo Santo Espírito e teve seus olhos abertos, senão uma devoção plena e integral a Deus.
A consequência inevitável é uma vida de adoração — pois Cristo já fez tudo por nós.
Reforma Protestante: Solus Christus
“Porque há um só Deus e um só Mediador entre Deus e a humanidade: Cristo Jesus, homem.” 1 Timóteo 2.5
A ênfase de Solus Christus entre as bases da Reforma Protestante é nítida: afirmar que Jesus Cristo é o único capaz de mediar o caminho para Deus, o Pai. Ele mesmo é o caminho.
“Jesus respondeu: — Eu sou o caminho, a verdade e a vida; ninguém vem ao Pai senão por mim.” João 14.6
É certo, também, que os reformadores, em seu tempo, combateram toda pretensão humana ou institucional de ocupar esse lugar — fossem santos, sacerdotes ou obras que competissem com a cruz de Cristo.
“Aprouve a Deus, em Seu eterno propósito, escolher e ordenar o Senhor Jesus, Seu Filho Unigênito, para ser o Mediador entre Deus e o homem — o Profeta, Sacerdote e Rei, o Cabeça e Salvador de Sua Igreja…” Confissão de Westminster (1646), cap. VIII
À primeira vista, poderíamos entender que tanto as Escrituras quanto os reformadores concentraram-se apenas no aspecto soteriológico da obra de Cristo, como se a salvação fosse o objetivo último de Sua missão. No entanto, é evidente, à luz das próprias Escrituras e da teologia reformada, que a salvação é o meio para o cumprimento de algo maior: a entronização de Cristo como Rei e Mediador da reconciliação de um só povo com o Criador.
“Não lhes foram dados limites fixos, mas foi-lhes designado o mundo inteiro para ser reduzido à obediência de Cristo, para que, difundindo o Evangelho o mais amplamente possível, estabelecessem Seu reino por toda parte.” Calvino, Institutas IV.3.4
“Porque Deus achou por bem que, n’Ele, residisse toda a plenitude e que, havendo feito a paz pelo sangue da Sua cruz, por meio d’Ele reconciliasse consigo mesmo todas as coisas, quer sobre a terra, quer nos céus.” Colossenses 1.19-20
Sendo assim, Solus Christus nos chama a olhar para além da salvação em si: a ver Cristo como o centro de convergência de toda a realidade, o Senhor entronizado sobre a criação reconciliada.
N’Ele, tudo encontra propósito.
Ele é o fim.
Solus Christus!
Reforma Protestante: Sola Gratia
As escrituras apontam claramente que não há salvação para o homem fora da graça de Deus:
"Porque pela graça vocês são salvos, mediante a fé; e isto não vem de vocês, é dom de Deus; não de obras, para que ninguém se glorie" (Efésios 2.8-9 - NAA).
Portanto, nenhum tipo de empenho e desejo humano pode levá-lo à salvação. Esta se restringe única e exclusivamente aos atos redentores de Jesus Cristo, os quais são dignos de toda confiança.
Nesse contexto, a igreja tem como objetivo buscar os interesses de Cristo e prezar pelos seus ensinamentos, indo contra as tendências performáticas do mundo.
Seu dever é ensinar aqueles que estão buscando salvar a si mesmos por meio de boa conduta ou serviço — os quais se enganam e ferem a realidade do Evangelho e da Graça com essa concepção.
Por isso, faz-se necessário revisitar o verdadeiro significado da Sola Gratia, a fim de recalibrar a esperança da salvação. Na cruz, Jesus recebe o pagamento das obras humanas, a saber, a justa e tremenda ira de Deus. Ou seja, o homem já fez a sua "obra" — e, o que fez, foi mau aos olhos do Senhor.
Porém, nós, sendo guiados totalmente pelo Espírito Santo, encontramos verdadeira redenção naquele em quem está a boa obra: Cristo. A supremacia de Jesus anula o mérito da salvação de toda e qualquer pessoa, e a graça, afrontando os soberbos, abraça os humildes.
Assim, o entendimento da graça deve fazer parte da reflexão diária do cristão, uma vez que ela coloca o pecado do homem diante dos seus próprios olhos. Desse modo, a graça se torna a forma de vida e confiança do crente — que vive pela graça. As obras são ressignificadas pelo prisma da GRANDE OBRA de Jesus.
O gosto amargo da incapacidade humana de se salvar torna a doçura da graça um acalento para a alma daqueles que, imerecidamente, por ela foram atingidos.
Reforma Protestante: Soli Deo Gloria
A salvação dos homens é obra de Deus; a cruz, como resposta aos nossos pecados, é obra de Deus; Cristo ressurreto é obra de Deus; a nova criação é obra de Deus; o Espírito em nós é obra de Deus. A salvação, do começo ao fim, é para a glória de Deus.
Podemos, em nossa mediocridade e ânsia de grandeza, tentar buscar honras e glórias que não nos são devidas, mas nada muda o fato de que não existe uma partícula sequer no universo inteiro de que Deus não declare: “É minha”.
Devemos nos lembrar de que até mesmo em nossas refeições glorificamos a Deus. Assim como um bebê não leva o crédito por seu nascimento, nós não temos mérito em nosso novo nascimento. Nós, antes mortos em nossos pecados e delitos, somos chamados para fora de nossas sepulturas ao ouvir a voz do Mestre — para “simplesmente”, ou melhor, “ricamente”, termos o privilégio de glorificá-lo.
Porém, ao sempre dizermos “glória a Deus”, podemos acabar perdendo o peso do que isso realmente significa. Mas a glória de Deus não perde seu peso — assim como o mar não cede seu território.
Veja como Isaías declara: “E clamavam uns para os outros, dizendo: Santo, santo, santo é o SENHOR dos Exércitos; toda a terra está cheia da sua glória.” (Isaías 6:3).
Todo o universo todo é um palco para glorificar a Deus, para contemplarmos sua beleza e santidade. Talvez essas sejam as palavras que expressam o que realmente a glória de Deus é: bela e santa.
À medida que conhecemos mais a santidade de Deus, entendemos mais e mais o peso da sua glória. Ambos os atributos estão ligados: santidade e glória.
Por isso, quanto mais nos aproximamos de Deus em uma vida de busca por santidade, reconhecemos mais sua glória, força, amor e poder. Pois assim como João caiu de joelhos, nós, ao contemplarmos parte de Sua glória na obra da redenção, caímos em nós mesmos e não temos outra ação a não ser glorificá-lo.
“Quem, pois, conheceu a mente do Senhor? Ou quem foi o seu conselheiro? Ou quem primeiro deu a ele para que lhe venha a ser restituído? Porque dele, e por meio dele, e para ele são todas as coisas. A ele, pois, a glória eternamente. Amém!” Romanos 11:34-36
Soli Deo Gloria
Reforma Protestante: Sola Scriptura
O Sola Scriptura é o princípio normativo mais fundamental da fé protestante, do qual os demais solas da Reforma são derivados por consequência lógica e teológica.
Ao afirmar o Sola Scriptura, em conformidade com toda a tradição protestante e seus credos históricos, declara-se, em linhas gerais, que as Escrituras são a autoridade final em matéria de fé, doutrina e salvação. Elas possuem primazia em relação à tradição e à razão — sem, contudo, invalidá-las ou negligenciá-las —, mas colocando-as em suas devidas posições de subserviência às Escrituras, como ferramentas para auxiliar na correta interpretação da Palavra de Deus.
O Senhor Jesus Cristo, em inúmeras passagens dos Evangelhos, confere às Escrituras caráter autoritativo. Textos como Mateus 4:4-10, onde Cristo vence a tentação de Satanás apenas com o “está escrito”, demonstram sua confiança plena na Palavra como norma de fé e prática. Em Marcos 7:6-10, no embate de Jesus com os fariseus, Ele utiliza o texto de Isaías para desqualificar a tradição religiosa quando esta colide com a Palavra de Deus, estabelecendo, portanto, a supremacia das Escrituras sobre a tradição.
Em João 10:35, Cristo afirma explicitamente a infalibilidade do texto bíblico, revelando sua autoridade divina e inspiracional. Em Lucas 24:27 e 44, Jesus interpreta as Escrituras como testemunho messiânico que se cumpre nEle — o que está em paralelo com Mateus 5:17-18 e João 5:39-47 —, onde declara a permanência das Escrituras até o cumprimento pleno da Lei e dos Profetas, os quais testificam dEle.
O fundamento do Sola Scriptura é cristológico, pois, tendo Jesus ressuscitado dentre os mortos, confirmando sua divindade, por consequência, seu testemunho acerca de si mesmo e das Escrituras é verdadeiro. E, tendo comissionado seus apóstolos e prometido o Espírito que os guiaria em toda a verdade (João 16:13), por extensão, o testemunho apostólico também é autoritativo.
Portanto, o Sola Scriptura não é uma mera confissão protestante, mas um corolário teológico inevitável da ressurreição.

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